segunda-feira, agosto 21, 2006

Suicídio Político no Voto de Retrocesso

Wintemberg Rodrigues

Estamos em mais um ano de eleição; mas para alguns. Para outros, porém, este é um ano em que o voto será entregue de mão beijada sob o pretexto, o velho e enfadonho pretexto de “voto de protesto”. Pois vamos ao caso e o analisemos pormenorizadamente. Amiúde as pessoas assumem o hábito de criticar os candidatos que escolheram, sem uma ação verdadeiramente representativa que venha a despertar o público para a insatisfação do povo quanto a determinados factóides que compungem as massas, se é que as compungem.

Todavia, observa-se um comportamento tímido e recalcado da parte do povo que não faz outra coisa a não ser dizer que nenhum político presta ou criticar o partido que menos lhe agrada, pondo-o como bode expiatório para explicar o vergonhoso sistema político brasileiro. Vergonhoso sim, porque não se vê, em imprensa alguma, barbáries políticas tão contundentes quanto a presente em nosso país.

Entrementes, o povo é parte do sistema político. Ele é quem verdadeiramente fiscaliza se seus candidatos – repito – seus candidatos, pois foram por eles escolhidos, estão lhes representando devidamente. Mas, o problema vem quando surge a necessidade de iniciativa do povo. O povo aprendeu a ficar calado e cuidar daquilo que lhe diz respeito diretamente e deixar que os políticos corruptos se virem. Essa vista grossa natural na sociedade brasileira, excerto em alguns casos, como no ato de impeachment que derrubou F. Collor, faz com que os políticos sintam-se à vontade para desviarem dinheiro público em prol de interesses próprios. Porque o povo não se sensibiliza, não põe as caras nas ruas para mostrar indignação, não participa do ato de repúdio ao sanguesuguismo presente no palácio do planalto. Os protestos, que são comuns na Europa até por conta de combustível, são atos raros feitos apenas por estudantes quando o preço da passagem de ônibus sobe. Cadê os protestos pela ética? Cadê os protestos pela transparência governamental? Cadê os protestos pela excelente administração dos recursos públicos? Existem? Não. Porque as pessoas estão apenas interessadas em irem para seus trabalhos, ganharem seu dinheiro ao final do mês e passarem alguns finais de semana na casa de praia ou curtindo qualquer outra coisa. Quase ninguém quer fazer pressão por justiça social.
Mas, sabe o que estão fazendo? É com lamento que externo essa realidade cruel da democracia brasileira: estão dando votos de protesto. Ou melhor, falando numa linguagem mais simples, o povo está jogando a toalha, pois votos de protestos, escolhendo candidatos cômicos e descomprometidos, é a representação mais nítida da ausência de consciência política em mentes que se acham dotadas de muita inteligência política. Concordo que o voto deva ser a partir dos 21 anos de idade. Porque muitos adolescentes ainda não conhecem bem a realidade do país, vivendo muitas vezes enclausurados em ideologias de um mundo confuso propiciado pelo compartilhamento de pensamentos da globalização. Sem saber administrar tanta informação, tais jovens acabam por ceder a modismos como votações de protesto, por acreditarem que todo político é ruim. Assim preferem escolher a figura de um palhaço para lhes representar, já que o riso poderá lhe dar o efêmero alívio ao que provocou nas entranhas de sua mente a dor da corrupção.

É óbvio que muita gente grande pode votar em candidatos assim. Mas, esses também apresentam-se com uma mente pequena, ainda no florir da adolescência cheia de dúvidas. Mentes que não cresceram para observarem que melhor é sair às ruas exigindo ética que entregar seu valioso voto a um sujeito que nitidamente promete mentiras.

Sabe por que tudo isso? Porque as pessoas só enxergam como “arma” o voto, quando todos têm o poder de fiscalizar esses representantes. Ora, quem os elegeu? Foi o povo. Logo, quem exigirá excelência na prestação do serviço público? O povo. Mas, não existe o exercício da democracia em sua plenitude, quando as pessoas não estão participando no processo político, senão em época de eleição, e mesmo assim via voto de retrocesso (é assim que poderíamos chamar o voto de protesto).

Agora vamos aos cenários. Façamos de conta de nenhum candidato preste. O que o povo deve fazer? Votar naquele que está abertamente mentindo, só por ser sincero em auto proclamar-se mentiroso? O mentiroso, seja ele declarado ou não declarado, jamais deve ser bem vindo. Se a população quer dar voto de protesto, faça o protesto exigindo justiça, ética e cumprimento das promessas, mas durante o mandato, e não vendendo seus votos a mais representativa das figuras políticas que proclamam a mentira como forma de ironizar seus concorrentes, e ao mesmo tempo chegar ao poder para fazerem tristes e infelizes aqueles que compraram com momentos efêmeros de alegria descomprometida, arraigados numa filosofia aberta e desestruturada de voto alternativo.

Agora imaginemos que os políticos não sejam perfeitos; mas, podem fazer alguma coisa, como até mesmo Lula ou Alckmin tem feito. É melhor votar em que já fez e pode fazer algo, mesmo que pouco, ou votar em quem nunca fez e não demonstrou capacidade de fazer algo, nem pouco nem muito? De quem você esperaria o melhor: daquele que votou por protesto ou daquele que votou consciente de que, mesmo falho, poderá vir a fazer algo pela nação? É muito fácil responder.

Na cidade de Natal existe o caso de uma candidata que ficou para trás de uma dessas figuras do voto alternativo, ou voto de retrocesso. Esse sujeito jamais fez nada pela cidade a não ser divertir o público com gargalhadas, talvez para aliviar a dor de ter que votar em políticos imperfeitos. Mas, essa candidata tem uma participação visivelmente notória na cidade com diversas obras conseguidas por sua autoria. Então, vale a pena o voto de protesto? Na verdade, é um voto de retrocesso, pois as pessoas estão votando contra si mesmo, como se fosse um verdadeiro suicídio político. Esperemos que as próximas gerações não sofram a decadência que pode agravar mais ainda a crise política no país. Política não é brincadeira. Se pararmos para pensar em quantas ditaduras, regimes de ferro, e brutalidades existem pelo mundo a fora, valorizaríamos muito mais o nosso voto, e faríamos protestos inteligentes em vez de entregar de mão beijada nossos votos a candidatos incompetentes. Mas se alguém julga todos os políticos incompetentes, não é dando um voto de protesto que vai gerar neles competência alguma, mas participando ativamente, cobrando dos candidatos escolhidos as suas propostas. Mas, aos radicais, seria desgostoso cobrar propostas tão fora de sentido que trariam caos e ônus à sociedade ao invés de progresso e desenvolvimento. O verdadeiro voto de protesto vai além das urnas e se dá quando o povo cobra veementemente os candidatos que escolheu e não cedendo às mentiras de políticos que querem conquistar o povo com radicalismo ao qual só as mentes que não têm uma noção responsável do todo poderiam ceder.